sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Após 11/9, cresce o recrutamento de crianças pelo terrorismo


Felipe Schroeder Franke

Em abril deste ano, um atentado suicida explodiu uma mesquita no Paquistão, matando 50 pessoas. Após o ataque, um menino era levado em uma ambulância a um hospital local. Mas, mais que sobrevivente, Fida Houssein, de 14 anos, era um dos autores do atentado fracassado: homem-bomba, o menino não teve sucesso em explodir os armamentos que levava ao corpo, e acabou errando também na detonação da uma bomba. Com a mão decepada, ele garantia aos policiais e enfermeiros: "Deixem-me, quero ser um mártir!".

A história de Fida Houssein é uma entre tantas de crianças e jovens atraídos para as atividades terroristas e que compõe o complexo cenário do tipo de guerra inaugurado pelo terrorismo contemporâneo. "É o que chamaríamos da natureza da guerra em mutação, na qual as linhas entre combatentes e civis estão pouco claras, e, como resultado, as crianças acabam se tornando alvos da violência, ou com crianças sendo usadas como homens-bomba suicidas", esclarece a Representante Especial do Escritório de Crianças e Conflitos Armados da Organização das Nações Unidas (ONU), Radhika Coomaraswamy, em entrevista ao Terra.

Atrair crianças para engrossar as fileiras dos exércitos de resistência ou de terroristas não é privilégio da última década. A partir da segunda metade do século XX, por exemplo, crianças foram frequentemente usadas por grupos terroristas na Somália e no Sri Lanka, por exemplo. Mas desde o início do século XXI, com a emergência do tipo contemporâneo de terrorismo, aumentam os casos, especialmente nos países envolvidos nas duas maiores guerras da última década.

"Aumentou muito (a ocorrência de crianças recrutadas) nas guerras do Afeganistão, do Iraque e da Somália. Houve um número muito maior de crianças sendo envolvidas em terrorismo no mundo pós-11 de setembro. Antes, nas guerras afegãs dos anos 1990, isso não era um problema tão grande quanto é agora", afirma Coomaraswamy. "Os grupos terroristas têm tentado mobilizar toda a comunidade, e descobriram, como nas guerras africanas dos anos 80 e 90, que as crianças são bons lutadores, pois as crianças não têm noção da morte, são obedientes e nenhum senso de medo".

Numa guerra como a do terrorismo contemporâneo, na qual alvos públicos são objetivados, na qual não se tem a clara identificação de qual é o inimigo, as crianças se tornam, sobretudo em regiões pobres e com governos fracos, alvos fáceis para o recrutamento e a atividade esperada de um terrorista. "Às vezes, os terroristas pagam as famílias das crianças. Mas, por outro lado, (as crianças) são forçadas a uma visão ideológica (dos terroristas), na qual desempenham o papel de mártires. As crianças amam a noção de uma morte romântica, de serem heróis na morte, são facilmente influenciadas", sintetiza.

A ONU não dispõe de números sobre o total de crianças atraídas para atividades terroristas no mundo, mas os Princípios de Paris, oficializados em 1991, preveem uma série de ações para os Estados no desafio de lidar com as crianças saídas das atividades junto a grupos terroristas. "O princípio básico é tentar conectá-las com suas famílias e com trabalhar com elas na comunidade", diz. "Se as crianças não podem voltar às suas famílias - e isso acontece bastante quando as famílias estão em áreas onde o recrutamento (de crianças) ocorre -, tentamos acordos para fazer com que as crianças recebam apoio da ONU, até que possam seguir seu caminho".

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