sábado, 18 de dezembro de 2010

Entrevista com Daniel Pipes: 'Israel não tem uma estratégia'

Dennis Mitzner e Ariel Solomon: Pajamas Media, 10 de dezembro de 2010
Original : 'Israel Has No Policy'
Tradução, comentários [] e links*: Dextra


    As últimas décadas foram assoladas pelo terrorismo islâmico e por guerras no Oriente Médio, enquanto o Islam se deslocava para o centro da discussão política ocidental.  E Daniel Pipes tem estado no centro deste debate, apresentando suas penetrantes análises a dezenas de milhões. Estas análises fizeram do Dr. Pipes uma autoridade em temas relacionados com o Islam e assuntos do Oriente Médio. Além de apresentar suas análises por meio de seu site pessoal e do Forum para o Oriente Médio, fundado por ele, Pipes viaja pelo mundo, falando em universidades, think tanks e outros locais. Suas aparições muitas vezes provocam distúrbios e protestos irados, embora atraiam, simultaneamente, um apoio fervoroso.
    Nós nos sentamos com ele para conversar sobre Israel, o Irã, a presidência de Barck Obama e outros assuntos oportunos. Ele também relembrou um debate — que ele considera um dos momentos mais marcantes de sua carreira — em 2007, em Londres, no qual ele e um neo-conservador britânico, Douglas Murray, derrotaram seus oponentes, o prefeito de Londres Ken Livingstone e Salma Yaqoob, uma política local do Partido do Respeito, originária de Birmingham. [Texto da palestra de Pipes aqui, vídeos aqui]*
    Pipes tem palavras duras para a liderança política israelense. De acordo com ele, Israel está simplesmente tentando se virar como pode a cada crise que ocorre e sua liderança não possui um plano para lidar com assuntos básicos de segurança. Na avaliação de Pipes, Israel tornou-se o extremo oposto do que o jovem país era nos anos 50 e depois, quando era guiado por um líderes talentosos, com uma visão de longo prazo dos interesses de Israel.
    A entrevista foi feita em Herzliya, Israel, em 16 de setembro de 2010.

Israel precisa de uma estratégia
    P: Israel desistiu da idéia de vitória?
    Daniel Pipes: Eu diria que ele não está tentando vencer; ele não tem idéia do que está fazendo.
    P: Você não concordaria que a comunidade internacional está impedindo Israel de vencer?
    Daniel Pipes: Não. É um problema interno. De 1948 até 1993, Israel tinha uma política de dissuasão que implicava em um objetivo de vitória. Em 1993, os líderes adotaram uma política de apaziguamento. Traduzindo: dê alguma coisa a seu inimigo, na esperança de que ele deixará você em paz. O apaziguamento foi abandonado em 2000, em favor de retiradas multilaterais, que então acabaram em 2006. Agora, não há política nenhuma.
    Não há lugar algum para onde o governo de Israel esteja tentando ir; ele está simplesmente tentando tapar buracos. O que ele está tentando fazer em Gaza, por exemplo? Está tentando se livrar do Hamas? Tentando fazer o Egito assumir o lugar? Ou tentando libertar Gilad Shalit? Eu atribuo isto à falta de objetivos diplomáticos. Esta não é uma questão de pressão exterior.
    P: Israel precisa de uma política tão rígida, de uam visão clara do futuro, considerando-se o quanto sua economia está crescendo?
    Daniel Pipes: Israel está crescendo muito, economicamente, mas está cada vez mais sob críticas que beiram a deslegitimização, ao ponto de que um boicote econômico por parte da Europa pode vir a acontecer, com outros países juntando-se a ele. Israel pode tornar-se um estado isolado, como a África do Sul. A Nova Zelândia não precisa de uma estratégia. Israel, sim.
    P: Quais as chances de um acordo de paz ente Israel e a Síria?
    Daniel Pipes: Mínimas. Eu não vejo os líderes sírios querendo romper com o Irã, a força dinâmica no Oriente Médio. Estar com o Irã é como estar em um time vencedor. Então, um acordo com Israel parece improvável.
    P: E se o Irã mudasse?
    Daniel Pipes: Sim, se acontessesse alguma coisa que fizesse o Irã ser o time perdedor, o pangaré, aí outros, como Assad, pensariam melhor.
    P: E se o Irã se nuclearizar, então a Síria não precisaria romper com o Irã.
    Daniel Pipes: Isto daria a Damascus ainda mais razão em se agarrar ao Irã.
    P: O sr. não vê um desejo lá, do lado sírio, de fazer a paz com Israel?
    Daniel Pipes: Os sírios ficariam melhor com um acordo destes, então, um acordo assim é uma questão de bom senso. Mas por que Bashar al-Assad iria querer isto e deixar o que ele vê como o time vencedor, o cavalo forte? Lembre-se, a Síria é administrada em benefício de seus governantes, não de seus súditos. Eu não vejo evidências de que ele esteja pronto a mudar de lado.
    O mesmo argumento poderia ser ouvido há uma década atrás, que Hafez al-Assad [o pai do atual ditador da Síria] deveria ter assinado um tratado de paz com Israel e receber todos os benefícios que disto resultariam. Eu duvidava disto, porque ele sabia como administrar uma ditadura, não um país com uma bolsa de valores, uma imprensa livre e uma cultura aberta. Seu filho, muito menos capaz, amarrou seu destino ainda mais completamente ao dos iranianos. Ele pertence a este bloco e pondo final.
    Dito isto, Netanyahu quase fechou um acordo com Assad em 1998, barrado apenas por seu ministro do exterior, Ariel Sharon. Eu revelei a história na New Republic, um ano depois. Se Netanyahu estava disposto a entregar as Colinas do Golã, há doze anos atrás, ele poderia fazer o mesmo, hoje.
    P: Netanyahu mais tarde negou a sua versão?
   Daniel Pipes: Sim, negou, sim. Durante uma hora que passamos juntos, em 2001, ele me criticou severamente por distorcer a história. Mas eu mantenho minha versão.

Obama bombardearia as instalações nucleares do Irã?
    P: Você vê Obama usando de força contra o Irã?
    Daniel Pipes: Eu acho que ele poderia atacar, por algumas razões: ele dise que não aceitaria um Irã com capacidade nuclear e ele está se saindo muito mal domesticamente. Deste modo, se ele quizer mudar o discurso, bombardear a estrutura nuclear iraniana funcionaria melhor do que qualquer outra coisa.
    E também, voltando ao bombardeio de 1981 à usina nuclear iraquiana, os israelenses não sinalizaram que iriam atacar, mas sim indicaram que não podiam realizar esta operação. Aí, de repente, bum!, borbardearam. Isto sugere que a desinformação sempre é parte do jogo. Portanto, não sei o que sabemos.
    P: O sr. acha que um ataque ao Irã garantiria a Obama um segundo mandato?
    Daniel Pipes: Eu não iria tão longe, mas isto mudaria a dinâmica política em seu favor.
    P: O sr. concorda que o presidente Obama mostra uma particular incompetência?
    Daniel Pipes: Não tenho certeza. Há dois modos de considerá-lo: ou olhando os números declinantes das pesquisas e a incompetência geral; ou vê-lo como um ideólogo com objetivos específicos, tais como tomar um sexto da economia [com a reforma socialista do sistema de saúde], e aí ser re-eleito não é uma prioridade elevada. Eu o vejo como o quarto dos presidentes democratas que tenta alterar a relação do estado com a sociedade: Wilson, Franklin Roosevelt, Johnson, e agora Obama.
    P: O presidente é um ideólogo, não um pragmatista?
    Daniel Pipes: Sim, ele pode se tornar pragmático e bombardear o Irã seria pragmático. À propósito, a esqueda dos Estados Unidos — o que o porta-voz da Casa Branca chama de a "esquerda profissional"  — tem atacado Obama. Os comentários esquedistas às vezes são mais ácidos do que os da direita. Na esquerda você vê uma decepção consternada.

Crescente sentimento anti-islâmico na América?
    P: Como o sr. comentaria a Cordoba Initiative [a mesquita do Marco Zero]?
    Daniel Pipes: Ela representa mais um esfoço para expandir o Islamismo. O mais interessante foi a reação contra ela, que se traduz em um rechaçamento das mesquitas em geral, no Tennesse e em outros lugares.
    P: Mas não há incidentes anti-muçulmanos; há nove vezes mais incidentes anti-semitas.
    Daniel Pipes: É claro, mas há alguns contra muçulmanos, embora menos do que os anti-judaicos, como você apontou. Vemos um crescimento no sentimento anti-islâmico, não anti-islamista. Eu não endosso isto. Eu quero que a resistência seja restrita e cuidadosa.
    P: A minoria muçulmana da América é mais bem-sucedida do que qualquer outra minoria muçulmana em qualquer outro país ocidental. O sentimento anti-islâmico realmente é uma questão do contexto americano?
    Daniel Pipes: É sim. Ele está crescendo.
   P: Mas não há radicais encorajando as pessoas a irem para as ruas e agirem contra os muçulmanos.          
    Daniel Pipes: Não, não é organizado, mas há uma sensação de que os que não gostam da islamização e os que não gostam dos muçulmanos encontraram uma voz e um assunto. Sob certos aspectos, fico feliz, e sob outros, fico preocupado. Fico satisfeito por os americanos estarem rejeitando a islamização, mas eles deveriam aceitar o Islam moderado. [Que tal um comunismo moderado, Pipes? Ou um Nazismo moderado, for that matter?]
    P: Qual sua avaliação do homem por trás da mesquita, o imam  Imam Abdul Rauf?
    Daniel Pipes: É um oportunista querendo aparecer. Ele se auto-intitula imam, mas não tem nem diploma. Os círculos islamistas não estão satisfeitos com ele, porque ele trouxe isso contra eles. Eu não me importo que a mesquita seja construída, porque ela prejudica o islamismo.
    P: De um modo ou de outro, os americanos ganham.
    Daniel Pipes: Sim.

A natureza complexa do Mundo Árabe 
    P: Voltando ao Mundo Árabe. O sr. acha que o tribalismo é mais profundo do que o Islam, no mundo muçulmano?
    Daniel Pipes: O Islam se impregnou de um caráter tribal e traz consigo características tribais. O tribalismo não é a característica — o Egito não é uma sociedade tribal — mas é endêmico, um prisma que explica muitas características.
    P: O Islamismo veio para ficar?
    Daniel Pipes: O movimento islamista é predominante neste momento, mas é temporário. Já podemos ver um aumento no número de muçulmanos que rejeitam o Islam e que estão buscando inspiração no modelo liberal ocidental. Eles não estão em uma posição de poder, mas há uma fermentação de idéias entre bravos dissidentes, intelectuais e organizadores disseminando estas idéias. Eles bem podem ter sucesso, mas não será para muito em breve.
    P: O que dizer de [o pregador islamofascista egípcio, radicado há anos no Qatar,] Yusuf al-Qaradawi, que tem tanto poder no mundo muçulmano e é considerado um moderado na comunidade muçulmana?
    Daniel Pipes: Ele é um islamista moderado, o que significa mais ou menos o mesmo que um nazista moderado. [Ah bom... mas... com quais das opiniões de Qaradawi um muçulmano médio, sinceramente devoto ( e "moderado"), não concordaria?]
    P: O sr. concorda que Qaradawi representa o árabe médio?
    Daniel Pipes: Ele é uma figura islamista e um  intelectual de destaque que tem um grande alcance com seus livros, programas de televisão e diplomacia, mas eu não reconheço que a maioria dos muçulmanos sejam islamistas. 
    P: O islamismo não é parte de um continuum histórico na história islâmica? Ele não apareceu em um vácuo.
    Daniel Pipes: É claro que há antecedentes para os islamistas modernos, por exemplo, Ibn Taymiyya. Mas é uma elaboração ideologica moderna de um tema velho. [Maomé não massacrou, expulsou e escravizou os judeus de Medina? Não conquistou Meca com um exército? O que era ele, um líder religioso pacífico?]
    P: Como o sr. explica a incapacidade para a auto-crítica coletiva no Mundo Árabe? Por exemplo, um artigo recente no diário londrino Al-Sharq al-Awsat sustenta que é necessário haver maiores investigações sobre o que aconteceu no onze de setembro. 
    Daniel Pipes: Eu escrevi um livro inteiro sobre isto, chamado The Hidden Hand, [A Mão Oculta] sobre teorias conspiratórias no Oriente Médio. A dependência mental de teorias conspiratórias nos países falantes de árabe é realmente extraordinária. Ironicamente, não é sequer um fenômeno intrinscecamente muçulmano, mas deriva do Ocidente. Uma prova disto está no fato de que os muçulmanos têm os mesmos dois inimigos conspiratórios que os europeus: os judeus e sociedades secretas, como os maçons. Por outro lado, eles dificilmente culpam os hindus, russos, alemães, chineses e japoneses.

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