terça-feira, 17 de agosto de 2010

União Africana reforça tropas na Somália

Al-Shabab
A decisão dos líderes africanos foi uma resposta ao duplo atentado de 11 de Julho em Kampala e um cerrar de fileiras contra o terrorismo islâmico no continente. “Vamos actuar em conjunto e varrê-los para fora de África”, disse ao jornal queniano Daily Nation o Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, logo no início de uma cimeira que reuniu três dezenas de chefes de Estado na cidade que, duas semanas antes, entrou no mapa do terrorismo.


O choque provocado pelos ataques que, segundo os últimos balanços, mataram pelo menos 85 pessoas em Kampala, e a reivindicação pelo Al-Shabaab, acusado de ligações à Al-Qaeda, que assim demonstrava capacidade para actuar fora das fronteiras da Somália, facilitou a decisão de reforço militar. Museveni admitira que, se o Uganda fizesse fronteira com a Somália, já a teria invadido. Como a geografia lhe dificulta os propósitos, defendeu o envio de mais tropas estrangeiras, que reforcem os 3500 ugandeses e os 2500 burundeses que compõem a Amisom, Missão Africana das Nações Unidas para a Somália, criada em 2007.


O comunicado final da cimeira de Kampala falava na necessidade de “mobilizar recursos proporcionais à magnitude dos desafios que a Somália e a região enfrentam” e o presidente da comissão da UA, Jean Ping, assumiu a existência de “compromissos” para aumentar rapidamente em 4000 soldados o contingente, o que permitiria ultrapassar os 8000 homens autorizados. A AFP noticiou que a UA poderia mesmo pedir às Nações Unidas que o tecto de efectivos fosse fixado em 15 mil militares.


O que o texto não diz expressamente, mas Ping confirmou ter sido discutido, foi a alteração do mandato da Amisom para permitir aos militares da força internacional atacarem de forma preventiva a organização islâmica, uma ideia que não é, no entanto, consensual.


O aumento do contingente é apresentado como uma medida de apoio não apenas ao governo de transição de um país marcado por duas décadas de instabilidade – a que apenas têm conseguido escapar a Somalilândia, antiga Somália britânica e a região semiautónoma de Puntland – mas também à estabilidade regional, ameaçada igualmente pela pirataria marítima. O Al-Shabaab é “uma ameaça a todos os vizinhos da Somália”, disse o subsecretário de Estado norte-americano para os Assuntos Africanos, Johnnie Carson, citado pela revista Economist.


A intenção será expulsar o Al-Shabaab de Mogadíscio e criar condições para que o governo ganhe espaço e tempo para tomar medidas que lhe dêem alguma credibilidade. Os EUA, preocupados em que o país se torne um santuário da Al-Qaeda, concordaram em fazer acompanhar o reforço dos efectivos com o aumento da ajuda financeira.


Ainda que o governo de transição, confinado a algumas ruas da capital, Mogadíscio, seja quase uma inexistência, terá prevalecido a tese do mal menor. “A alternativa é má. Se não apoiarem o governo de transição, virá o Al-Shabaab”, disse o ministro somali dos Negócios Estrangeiros, Yusuf Hassan Ibrahim, citado pela Reuters.


Ideia delirante


Mas diversas vozes consideram que o aumento de efectivos é um erro. “A ideia de que 8000 ou 10.000 mal equipados soldados africanos serão capazes de vencer a rebelião é totalmente delirante”, considera J. Peter Pham, vice-presidente do National Commitee on American Foreign Policy. “É um erro estratégico de primeira ordem”, disse à Voz da América. O Al-Shabaab poderá, com a chegada de mais estrangeiros, segundo este analista, “envolver-se no manto do nacionalismo e ganhar apoio público que de outra forma não conseguiria”.


“A presença de forças estrangeiras serviu sempre para galvanizar as facções e contribuiu para a radicalização de um país sem história de extremismo islâmico”, escreveu Daniel Howden, correspondente para África do diário britânico The Independent, que se refere ao governo de Mogadíscio como algo que existe apenas “nas embaixadas e salas de conferências fora do país”.


Desde a queda da ditadura de Siad Barr, em 1991, que as tentativas de estabelecer um governo central que funcione se têm traduzido em fracasso, quando não desastre. Foi o que aconteceu com a efémera intervenção militar norte-americana do início dos anos 90, a missão das Nações Unidas que se lhe seguiu, ou a invasão etíope de 2006, apoiada pelos Estados Unidos, que daria origem ao aparecimento do Al-Shabaab, que hoje controla grande parte do Sul e do Centro do país.“Quando pensamos em 14 fracassos e neste 15º governo vacilante, devíamos perceber que a comunidade internacional é incapaz de impor um governo na Somália [que os somalis] não aceitem como legítimo”, afirma J. Peter Pham. As forças internacionais deveriam, do seu ponto de vista, ser usadas apenas para proteger as zonas fronteiriças dos países que rodeiam a Somália, contendo a instabilidade no país.


O que fazer então? Alguns observadores admitem que, a prazo, pode ser aconselhável a retirada dos militares estrangeiros e a queda do governo transitório. Bronwyn E. Bruton defende, num relatório do Council on Foreign Relations publicado em Março, uma “retirada construtiva”, que poderia passar pela aceitação de uma autoridade islâmica, Al-Shabaab incluída, na condição de isso não impedir a ajuda humanitária e travar a desestabilização regional.

Fonte: http://www.publico.pt/Mundo/uniao-africana-reforca-tropas-na-somalia_1451662?p=1

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