terça-feira, 16 de abril de 2013

Apoie Assad

por Daniel Pipes
The Washington Times
11 de Abril de 2013
http://pt.danielpipes.org/12760/apoie-assad
Original em inglês: Support Assad
Tradução: Joseph Skilnik


Os analistas concordam que "está aumentando a erosão dos recursos do regime sírio", que ele continua a recuar sistematicamente, tornando o avanço dos rebeldes e a vitória islamista cada vez mais provável. Como resposta, estou mudando minhas recomendações políticas de neutralidade para algo que faz com que eu, como humanitário e inimigo de longa data da dinastia Assad, pare antes de escrever:

Os governos ocidentais deveriam apoiar a ditadura maligna de Bashar al-Assad.

A seguir apresento minha lógica para essa relutante ideia: As forças do mal nos trazem menos risco quando guerreiam entre si. Isso (1) os mantêm focados naquele determinado local e (2) evita que um dos lados saia vitorioso (apresentando assim um perigo ainda maior). As potências ocidentais deveriam nortear os inimigos para que cheguem ao impasse ajudando o lado que estiver em desvantagem, tendo como objetivo prolongar o conflito.


Tal política tem precedentes. Durante quase toda a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha Nazista esteve na ofensiva contra a Rússia Soviética e a manutenção das tropas alemãs presas na Frente Oriental, foi crucial para a vitória dos Aliados. Portanto Franklin D. Roosevelt ajudou Joseph Stalin, abastecendo suas forças e coordenando, com ele, o esforço de guerra. Visto o passado, essa política moralmente repugnante, embora estrategicamente necessária, teve êxito. E Stalin era um monstro muito pior que Assad.

Stalin, Saddam Hussein ... e Bashar al-Assad?
A guerra entre o Irã e o Iraque de 1980 a 1988 criou uma situação semelhante. No segundo semestre de 1982, quando as forças do Aiatolá Khomeini levaram a efeito a ofensiva contra Saddam Hussein, os governos ocidentais começaram a apoiar o Iraque. Sim, o regime iraquiano iniciou as hostilidades e era mais violento, mas o regime iraniano era ideologicamente mais perigoso e estava na ofensiva. O melhor seria se as hostilidades travassem ambos os lados e evitassem que um deles saísse vitorioso. Nas palavras apocalípticas de Henry Kissinger, "É uma pena que os dois não possam perder".


FDR, Reagan ... e Obama?
 Nesse espírito, eu defendia então a ajuda dos EUA ao lado que estivesse em desvantagem, qualquer que fosse ele, como na análise de maio de 1987: "em 1980, quando o Iraque ameaçava o Irã, nossos interesses estavam, pelo menos parcialmente, do lado do Irã. Porém o Iraque encontrava-se na defensiva desde o verão de 1982 e Washington estava firmemente do seu lado. ... Olhando para o futuro, se o Iraque tomasse novamente a ofensiva, mudança esta improvável, mas não impossível, os Estados Unidos deveriam mudar novamente de lado e pensar na possibilidade de fornecer assistência ao Irã"

Adotar hoje a mesma lógica com a Síria vislumbra paralelos notáveis. Assad está no papel de Saddam Hussein – o cruel ditador baathista que começou a violência. As forças rebeldes parecem o Irã, a vítima inicial que vem se fortalecendo com o passar do tempo, apresentando um perigo islamista cada vez maior. A luta ininterrupta põe a vizinhança em risco. Ambos os lados cometem crimes de guerra e colocam em perigo os interesses ocidentais.

É verdade, a sobrevivência de Assad beneficia Teerã, o regime mais perigoso da região. Mas uma vitória dos rebeldes, é bom lembrar, iria promover enormemente o inescrupuloso governo turco fortalecendo, ao mesmo tempo, os membros da jihad e substituindo o governo de Assad por islamistas inflamados e triunfantes. A luta ininterrupta é menos pior, aos interesses ocidentais, do que a tomada do poder. Há perspectivas piores que a amálgama islamista sunita e xiita do que jihadistas do Hamas matando jihadistas do Hisbolá e vice-versa. Melhor seria se não houvesse vencedor.

Uma cena de destruição em Aleppo.
A administração Obama está tentando botar em prática uma política por demais sutil e ambiciosa, de ajudar simultaneamente os rebeldes bons com o envio
clandestino de armas letais e 114 milhões de dólares, ainda que esteja se preparando para atacar com aviões não tripulados os rebeldes maus. Grande ideia, mas manipular as forças rebeldes via controle remoto oferece poucas possibilidades de êxito. Inevitavelmente, a ajuda acabará nas mãos dos islamistas e os ataques aéreos matarão aliados. Melhor aceitar suas próprias limitações e almejar o viável: apoiar o lado que estiver recuando.
Ao mesmo tempo, os Ocidentais devem ser fiéis aos seus princípios morais e ajudar a acabar com as operações militares contra civis, os milhões de inocentes sofrendo gratuitamente os horrores da guerra. Os governos ocidentais deveriam encontrar mecanismos para forçar os grupos rebeldes a respeitarem os códigos de guerra, especificamente aqueles que separam os combatentes dos não combatentes. Seria uma maneira de pressionar os fornecedores dos rebeldes (Turquia, Arábia Saudita, Catar) e aqueles que apóiam o governo da Síria (Rússia, China) a condicionarem a ajuda ao respeito aos códigos de guerra, poderia até envolver o uso da força pelo Ocidente contra os violadores, qualquer que seja o lado. Isso levaria a termo a responsabilidade de proteção.

No feliz dia em que Assad e Teerã combaterem os rebeldes e Ancara até a mútua exaustão, a ajuda ocidental poderá ir para os elementos não baathistas e não islamistas da Síria, ajudando-os a oferecer uma alternativa moderada às miseráveis opções de hoje e levar a um futuro melhor.

Daniel Pipes é diretor do Middle East Forum e colunista premiado dos jornais New York Sun e The Jerusalem Post. Sua obra mais recente, Miniatures: Views of Islamic and Middle Eastern Politics foi publicada no final de 2003. Seu website, DanielPipes.org, é a fonte de informação especializada em Oriente Médio e Islã com o maior número de acessos registrados na Internet. O leitor encontra ali um arquivo de todos os textos do autor e, mediante inscrição, recebe por e-mail os novos artigos publicados.



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