segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O dilema judeu

Cercado pelas revoltas árabes, Israel vive a dúvida hamletiana: aposta na paz ou se prepara (ainda mais) para a guerra?

Com os levantes árabes tomando conta do Oriente Médio, Israel reviveu mais fortemente o fantasma de 1979, quando perdeu o maior aliado e ganhou o pior inimigo. Em fevereiro daquele ano, os iranianos tomaram as ruas de Teerã, derrubaram a ditadura do xá, que mantinha relações amistosas com Israel, e instalaram em seu lugar a ditadura dos aiatolás, que dura até hoje e já ameaçou varrer Israel do mapa. Agora, a história vai se repetir? Com seus melhores parceiros árabes no radar das revoltas populares - o ditador da Tunísia fugiu, o ditador do Egito caiu e a monarquia da Jordânia balança -, qual será o novo cenário para Israel? Pode ficar cercado por democracias inclinadas a firmar a paz ou por ditaduras hostis comandadas por extremistas islâmicos. Num caso, pode se preparar para a paz, no outro, deve armar-se ainda mais para a guerra. Para Israel, o problema não é apenas uma questão estratégica de segurança. É uma dúvida hamletiana. Dela depende a sua própria sobrevivência como estado judeu numa região dominada por árabes.

A superioridade militar de Israel na região é incontrastável e nada sugere que deixe de ser. Em breve, terá dois novos submarinos e mais vinte caças americanos F-35, os mais avançados aviões de combate do mundo. No caso de uma eventual ascensão de radicais islâmicos no Egito, Israel terá de se armar ainda mais. Primeiro, porque o Egito, um aliado até a queda do ditador Hosni Mubarak, é dono da mais poderosa força militar árabe. Segundo, porque terá de militarizar o Sinai, hoje uma região desmilitarizada. Apostando no confronto, Israel manterá os assentamentos de judeus nos territórios ocupados e terá de insistir no bloqueio à criação de um estado palestino. O risco é aprofundar mais ainda seu isolamento diplomático. Apostando na paz e na negociação, Israel pode oferecer um caminho para a criação do estado palestino e, com isso, afastar a Síria da esfera de influência do Irã e, quem sabe, até reduzir um pouco a hostilidade que lhe devoram os cidadãos árabes de qualquer país. O risco mais evidente dessa estratégia é se ver cercado por inimigos ainda mais ferozes por todos os lados - tendo contra si não apenas a opinião pública mas os governos.

“O gênio saiu da garrafa”, diz a professora Ellen Lust, da Universidade Yale, especialista em assuntos do Oriente Médio. “Acabou o tempo em que não era preciso negociar.” Isso acontece porque o dilema de Israel, na realidade, não está apenas no perigo de uma ditadura islâmica no Egito. A democracia também é complicada. A Turquia tem regime islâmico, só que moderado, democrático e amigo do Ocidente. Israel tem embaixada em Istambul, para onde os israelenses viajam com frequência e desembaraço. Mesmo assim, a Turquia virou uma dor de cabeça para Israel. O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan abandonou a aliança estratégica com Israel e, para conquistar apoio popular, não perde a chance de se opor ao uso da força e ao tratamento dado aos palestinos. Com isso, a Turquia aprofundou o isolamento diplomático de Tel-Aviv. A escassez de apoio político - mais do que o campo de batalha - talvez seja hoje o principal desafio de Israel.


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