ANCARA - O Estado de S.Paulo
O grupo islâmico turco Akincilar admitiu ontem ter sido o responsável pelo ataque na web contra o jornal satírico francês Charlie Hebdo - que publicou a imagem de um suplemento especial com caricaturas do Profeta Maomé -, mas assegurou que não teve envolvimento no atentado com coquetéis molotov que incendiou o escritório da publicação.
Em sua página na internet, o grupo diz que sua missão é "lutar contra as publicações que atacam a fé islâmica e os valores morais, contêm pornografia e materiais satânicos". O grupo acrescentou que a versão digital do Charlie Hebdo tornou-se alvo de sua luta por publicar conteúdos que ofendem os valores islâmicos.
Com relação ao ataque incendiário, o Akincilar disse que não apoia nenhum tipo de ação efetuada com tal violência.
O semanário, cujos escritórios foram destruídos pelo ataque de terça-feira à noite, mudou-se temporariamente para o prédio do jornal de esquerda Libération e defendeu ontem "a liberdade para fazer sátiras". O jornal também publicou um suplemento especial com quatro páginas - encartado no Libération - com a reprodução da polêmica charge de Maomé. Entre os outros desenhos está um do Profeta tentando segurar sua túnica, em uma pose que lembra a famosa imagem de Marilyn Monroe, enquanto uma rufada de vento sai de um dos exemplares da revista levantando a roupa dele.
A publicação de caricaturas do Profeta em um diário dinamarquês, em 2005, provocou distúrbios no mundo islâmico, nos quais morreram ao menos 50 pessoas.
Grupos muçulmanos franceses criticaram a obra de Charlie Hebdo, mas também condenaram o ataque. O líder da principal mesquita de Paris, Dalil Boubakeur, disse ontem em entrevista coletiva que é extremamente apegado à liberdade de imprensa, apesar de ela não ser sempre carinhosa com os muçulmanos ou o Islã. O ex-assessor presidencial sobre diversidade religiosa Abderrahmane Dahmane disse não ter ficado impressionado com a capa da revista e brincou: "Temos senso de humor no mundo islâmico. O que dizemos às vezes sobre o Islã ou o Profeta, entre nós ou na presença de imãs, é pior do que escreveu Charlie Hebdo".
A França tem a maior comunidade islâmica da Europa, com cerca de 5 milhões, de uma população de 65 milhões. O país tem uma profunda tradição de laicismo e este ano proibiu nos locais públicos o uso do véu integral, como a burca e o niqab. / EFE e REUTERS
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