Bassam Anis foi durante muito tempo um otimista, no entanto, os persistentes ataques contra a sua comunidade cristã acabou convecendo-o de que seu país de origem, o Iraque, já não lhe oferecia segurança. Assim, em 30 de abril, ele fugiu.
Embora a solução adotada por Bassam possa parecer extrema, ela não é algo incomum.
Em 31 de outubro, um grupo ligado a Al-Qaeda, invadiu uma igreja católica siríaca, em Bagdá, com o cerco que seguiu, 44 fiéis, dois padres e sete oficiais das forças de segurança iraquianas acabaram mortos.
O ataque foi o pior contra a comunidade cristã do Iraque desde a invasão de 2003 liderada pelos EUA, e inúmeros membros da minoria, desde então, fugiu do país.
Para Bassam, sírio ortodoxo, o ataque o atingiu de forma particular, pois ocorreu próximo de sua casa e entre os Católicos mortos, um era sua amiga, Raghad.
"Antes, eu estava otimista", disse o professor de biologia de 26 anos, à AFP em um restaurante no centro de Bagdá, antes de sua partida. "Eu nunca imaginei que eu iria deixar o Iraque, porque eu não poderia imaginar começar minha vida novamente."
Ele continuou: "Porém, desde o ataque, eu comecei a perceber que não há mais esperança neste país. É terrível pensar assim, mas sair é a única solução".
Bassam então contou a história bíblica de Ló, que relutantemente fugiu de Sodoma com sua família, após ser alertado por Deus que a cidade seria destruída.
Oito anos após a invasão liderada pelos EUA que derrubou o ditador Saddam Hussein e seu regime, a violência continua elevada no Iraque, apesar de ter diminuido em comparação com seu pico em 2006 e 2007.
Mesmo assim, o governo iraquiano tem insistido que as forças locais são capazes de manter a segurança, e afirma que a situação melhorou, já que a violência diminuiu.
Mas, apesar de tais garantias, de acordo com dados da ONU, milhares de iraquianos continuam fugindo do país todos os meses, em busca de uma vida melhor.
Bassam continua traumatizado com a carnificina da igreja.
Durante as seis horas que os insurgentes fizeram os cristãos de reféns, ele ficou do lado de fora ao lado de um colega que recebia informações de seu tio que estava dentro da Igreja.
Bassam, esforçando-se para conter as lágrimas, lembra que Raghad, que tinha se casado há apenas 40 dias com seu amigo de infância Iyad,estava grávida quando uma granada lançada por um dos sequestradores a matou.
"Depois do ataque a minha vida tornou-se negra".
"Ná não comemoro nossas festas religiosas, ou as de meus amigos muçulmanos".
Bassam disse que sonha com Raghad com freqüência. Em um desses sonhos, ela lhe disse que se sentiu abandonada pelo marido e sua família, que fugiu para Amã, depois do ataque. "Então, eu acendi uma vela para ela na igreja."
Bassam finalmente decidiu deixar o Iraque, ignorando as vozes de líderes cristãos, que exortou os seguidores a permanência, para evitar "jogar o país nas mãos dos terroristas".
"Nós não precisamos de ninguém para nos dizer o que fazer", disse Bassam, zombando de seus companheiros cristãos que removem suas cruzes dos espelhos de seus veículos para evitar que descubram sua religião.
"Nós somos alvos. Não podemos ignorar isso ", observou ele.
O ataque do dia 31 de outubro provocou indignação entre a comunidade internacional, e entre líderes políticos iraquianos, que afirmaram que é importante proteger a minoria cristã histórica.
Mas desde então, vários ataques - a maior parte deles à noite - têm como alvo os cristãos em Bagdá e outros lugares.
"Até que possamos finalmente dormir tranquilos, não podemos dizer que estamos seguros", afirmou Bassam.
Em um sinal de sua crescente desconfiança com seus compatriotas, ele não revelou seus planos de fugir junto com sua mãe nem mesmo para seus vizinhos, e durante meses, secretamente planejou e organizou a sua partida.
Inicialmente, ele tinha esperança de sair em 09 de abril, em um movimento simbólico para marcar a data em que o regime de Saddam caiu, mas a venda de sua casa e do carro foram adiados.
"Foi um dia desastroso para o Iraque", lembrou. "Não é porque a nossa vida era melhor antes, mas porque ficou muito pior depois."
Bassam finalmente embarcou em um vôo para a Jordânia em 30 de abril. Ele estava segurando um bilhete só de ida.
Leiam também:
- Vídeo legendado em português - O testemunho terrível de uma testemunha do masacre ocorrido na Igreja de Bagdá
- Tínhamos um Saddam, agora temos 100"
- Carta de duas testemunhas do massacre na Igreja Católica de Bagdá
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