sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Embaixador de Israel no Brasil apresenta palestra sobre o conflito árabe-israelense em Porto Alegre

"Todas as guerras são más e causam sofrimento,
mas todas elas têm regras éticas e morais".
Na última quinta-feira (27), a comunidade judaica de Porto Alegre esteve reunida junto à Federação Israelita do Rio Grande do Sul (FIRS), dirigida pelo presidente Jarbas Milititsky, para recepcionar um convidado especial. Como palestrante, o embaixador de Israel no Brasil, Rafael Eldad, apresentou a situação em que se encontra o Estado judeu frente à movimentação diplomática dos países circunvizinhos.

Este é o quarto país em que Rafael Eldad serve como embaixador, tendo passado por Peru, Paraguai e Argentina. Contando com a experiência adquirida no decorrer dos anos, e ciente das peculiaridades do Brasil, iniciou seu discurso ressaltando que "a palavra é muito importante, mas é mais ainda quando acompanhada de ação". Segundo o embaixador, para que as ações sejam as melhores possíveis, estarão abertos para a colaboração de todas as pessoas que buscam um legítimo futuro de paz.

Em sua palestra, Eldad apresentou os três pontos que julga serem fundamentais para o conhecimento da realidade das comunidades de Israel, e que contribuem para a resolução dos seguintes questionamentos: "Por que o conflito árabe-israelense é tão duro e persistente? O que torna tão difícil a convivência pacífica entre esses povos?". Abaixo, uma síntese da apresentação  realizada pelo embaixador de Israel.

1) Componente existencial: este é um conflito onde uma das partes está com a sua existência ameaçada. Em outros, como entre as tropas norte-americanas e os iraquianos, ou até mesmo com os afegãos, aconteça o que acontecer, ninguém colocará em dúvida a existência do Iraque ou do Afeganistão. Mas isso ocorre com Israel.

Quando uma pessoa recebe ameaça de agressão, ela apenas trata de se defender - o nível de perigo determinará o nível de resposta do ameaçado. Mas numa ameaça mortal, a reação, consequentemente, é diferente, respeitando as devidas proporções.

Enquanto que Ahmadinejad tenta apagar Israel do mapa, ao lado de Hezbollah  - por meio de práticas terroristas - e Hamas - que demonstra em sua Carta de Fundação o objetivo fundamental de sua organização: a efetiva destruição do Estado judeu -, há uma forte pressão da comunidade internacional, acusando o Estado judeu de ser "abusivo" quanto ao uso de força.

2) Percepção do conflito: o mundo olha para o conflito árabe-israelense e vê Israel como a parte tecnológica, desenvolvida, e mais forte, além de opressora, e entende que os árabes fazem parte, consequentemente, do grupo dos mais fracos, as reais vítimas do contexto.

Na realidade, há muito obscurecimento frente às circunstâncias presentes no mundo árabe. Levando em conta que Israel não é inimigo do povo árabe, mas dos seus inimigos declarados, esquece-se do número de países árabes existentes - uma maioria automática na ONU para quaisquer medidas contra Israel -, do desenvolvimento dos grupos terroristas e de que o "maior" adversário, na atualidade, não é árabe, apenas muçulmano (Irã).

3) Diferenças - cultura, valores éticos e morais: "Todas as guerras são más e causam sofrimento, mas todas elas têm regras éticas e morais".

a) Terrorismo - suicidas: não era algo vigente antes do conflito árabe-israelense e denota um ódio tão grande de alguém que busca matar o maior número de pessoas possíveis com a própria morte. Em suas comunidades, os suicidas são vistos pela sociedade como heróis, mártires (sob a aprovação de Allah). A pergunta que não quer calar é: "Que Deus é esse?"

b) Terrorismo - apreciação popular: há poucos anos foi realizada uma pesquisa nos países árabes sobre quem era a pessoa mais admirada. A resposta mais popular foi: Hassan Nasrallah. Por quê? Por ter conseguido "vencer Israel" através do terrorismo e da violência.

c) Educação que fomenta o ódio: fica difícil trabalhar por um processo de paz eficaz quando não há uma transformação de mentalidade. Enquanto que os diplomatas procuram fechar acordos, a população venera seus mártires, crianças são arregimentadas em facções extremistas e as escolas disponibilizam aos terroristas a possibilidade de instrução.



Gilad Shalit
Rafael Eldad apontou o caso como uma questão muito difícil de ser encarada. Também destacou que toda decisão tomada pelo governo será negativa - sempre terá alguém que fará oposição, além de que o viés negativo sempre estará presente.

A negociação por Gilad Shalit, soldado israelense sequestrado pelo Hamas em 2006, tratou-se de um grande dilema, mas a maioria da opinião pública israelense esteve e está de acordo com o acordo. A decisão retrata uma comunidade tão solidária que está disposta a fazer sacrifícios por cada integrante de seu povo.



Processo de Paz
Como o próprio nome diz, é um processo. Tende a ser longo, demorado, passando pelas gerações, afirmou o embaixador. Embora exista a tentativa de que um acordo de paz seja assinado, todos sabemos que isso não significará um ponto final para os conflitos, mas espera-se que seja o pontapé inicial para as transformações culturais, de valores e de mentalidade.

Um exemplo clássico disso é o tratado de paz assinado com os egípcios (1979). Na realidade, parece que nada aconteceu entre Israel e o Egito, pois a situação continua muito turbulenta.

Há uma esperança de que esse processo irá começar e, daqui a muitos anos, exista uma situação realmente pacífica - o que não é garantido.


Estado Palestino na ONU
Rafael Eldad declarou que Israel não está contra um Estado palestino em si, mas contra a formação de um que seja prematuro e unilateral. O Estado judeu objetiva a concretização de tal como resultado de acordos e de um processo de paz.

Jônatha Bittencourt: Como tem sido a movimentação diplomática Israel-Brasil após a posição brasileira favorável quanto à iniciativa unilateral da Autoridade Palestina na ONU?

Rafael Eldad: Foi difícil fazer com que o Brasil reavaliasse o seu posicionamento. Eles estavam muito determinados e decididos quanto a isso. E não é porque o Brasil é uma nação democrática que todas as decisões passarão pela opinião pública. O que de fato não ocorreu. Estou há pouco tempo aqui no país, mas estamos buscando um maior estreitamento entre a embaixada israelense no Brasil e a sua população, para que haja um real esclarecimento dos fatos e do nosso posicionamento.


Refugiados
Devido à sua experiência diplomática, o embaixador Rafael Eldad declarou que há um dilema referente à situação dos refugiados, pois os árabes têm tratado isso como se fosse algo "herdável". O que tem sido mais recorrente é o caso de pessoas que saíram de Israel há muitos anos e tiveram seus filhos e netos em campos de refugiados localizados em outros países, como Líbano, Jordânia etc , e quando são indagados a respeito de sua nacionalidade respondem: "Somos refugiados".

Como, por exemplo, os avós nasceram em Haifa, os filhos e netos no Líbano, mas a resposta destes é que são refugiados de Haifa, e não são libaneses.



Agenda
Rafael Eldad, o atual embaixador de Israel no Brasil, também comentou sobre algumas situações pertinentes à comunidade judaica, como as suas preocupações e necessidades. Diante de um público amistoso e bem receptivo, também procurou responder as perguntas realizadas no local.

Com uma agenda repleta de atividades, vale destacar que também esteve presente na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, na manhã de quarta-feira (26), onde, em sua primeira visita ao Estado, presenciou a homenagem dos deputados devido às importantes contribuições da comunidade judaica para a região. 

Por Jônatha Bittencourt, editor de CessarFogo.com e De Olho na Jihad

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