segunda-feira, 28 de março de 2011

Os planos ocultos da Irmandade / Entrevista com Esam EI-Erian

Desde que foi fundada no Egito, em 1928, a Irmandade Muçulmana persegue a mesma finalidade: construir um estado subordinado à sharia, a lei islâmica. O objetivo foi confirmado em 2007, quando a organização divulgou um programa partidário que defendia a criação de um conselho de sábios, não eleito, com a missão de analisar a compatibilidade das decisões governamentais com as normas religiosas. Desde a queda do ditador egípcio Hostú Mubarak, no mês passado, no entanto, a Irmandade esconde seus planos fundamentalistas e se vende a incautos com um discurso democrático. A aparente moderação tem data para tenuinar. O repórter de VEJA Duda Teixeira entrevistou Esam EI-Erian, porta-voz da Irmandade Muçulmana, e ele deixou claro que seu grupo tem como objetivo assumir o poder no país no prazo de cinco anos e que tem uma agenda pronta para quando isso ocorrer. A entrevistá foi feita no escritório de EI-Erian na capital egípcia, próximo a um hospital popular sustentado pela Irmandade Muçulmana.

A Irmandade pretende construir um estado islâmico no Egito, a exemplo do que ocorreu no Irã após a revolução de 1979? Criará leis para proibir o consumo de álcool ou saias curtas, por exemplo? 

O Egito não é o Irã. Não é a Arábia Saudita. Não é a Turquia.

Então, qual é o objetivo político da Irmandade Muçulmana? 

Isso depende da atmosfera e do contexto em que nos encontrarmos. Atualmente, nossa meta é conseguir a unidade nacional e instituir uma nova ordem no Egito. Isso significa uma nova Constiuição, leis melhores e a retomada da economia, o que será muito importante nos próximos cinco anos.

Por que cinco anos?

Alguns políticos dizem que a transição vai durar seis meses. Outros falam em um ano. Nós --achamos que-essas estimativas estão equivocadas. A transição vai demorar cinco anos.

Por que a Irmandade declara que não almeja mais do que um terço das cadeiras no próximo Parlamento, cuja eleição deve ocorrer neste ano? 

Nós não queremos a maioria no Congresso.

Por que não? 

Porque, como eu disse, este é Um momento de união, não de competição.

Será sempre assim? A Irmandade nunca vai querer mais do que um terço do Congresso?

Esta é a nossa estratégia há 25 anos. Estamos em um momento de transição, preparando o país para nossa próxima estrarégia, a qual será iniciada após cinco anos. Só então haverá competição. Agora não há tempo para isso. O momento atual é de união.

Qual é o projeto de país da Irmandade Muçulmana para daqui a cinco anos, quando acabar o período que o senhor considera de união entre as forças políticas? 

Por favor, pare de fazer essas perguntas. Volte daqui a cinco anos e faça essa mesma indagação. Daí, sim, eu responderei (EL-Erian dá uma risada).

Como será o Egito daqui a cinco anos? 


Por favor....

Que opinião o senhor tem a respeito das brigas recentes entre muçulmanos e cristãos coptas? 

Isso é a contrarrevolução.

O Egito conseguirá manter-se estável durante essa transição, mesmo com esses conflitos religiosos? 

Se conseguirmos evitar as intervenções de americanos e de israelenses, será muito bom. São eles os grandes perdedores dessa revolução, e não Hosni Mubarak.

O senhor está dizendo que americanos e israelenses incentivam as disputas religiosas? 


Claro. Mubarak era um parceiro estratégico para eles.

Se é assim, por que americanos e israelenses não agem para permitir que Mubarak volte poder?

Se ele fizer isso, será morto.

Morto? 

Depois de um julgamento, claro.

Eu e meu fotógrafo viajamos até Soul, onde uma igreja e casas de cristãos foram incendiadas. Os moradores muçulmanos nos impediram de entrar na vila, acusaram-nos de ser espiões estrangeiros e nos ameaçaram...Parece-me improvável que estivessem a serviço de americanos e israelenses.
Se quiser, posso dar o telefone de uma pessoa na vila de Soul para acompanhá-los em segurança....

Quem está ateando fogo às igrejas? 

O pessoal do Partido Nacional Democrático (de Mubarak), os agentes da segurança de estado e os criminosos. Estou triste porque bispos e o papa Shenouda III (da Igreja Ortodoxa Copta) apareceram em público para reclamar dos ataques apresentando-se como cristãos. Isso não é bom.

Eles não podem declarar abertamente sua fé?

Os cristãos devem se defender como civis, não em nome de um setor da sociedade. Somos todos egípcios.

O clérigo· muçulmano Yusuf.al-Qaradawi,apresentador de um programa na rede-AI Jazira, do Catar, e membro da Irmandade Muçulmana, diz que o marido tem o direiIt de bater na mulher, defende os atentados suicidas e acredita que os países islâmicos devem ter armas nucleares para aterrorizar inimigos. Qual será o papel de Qaradawi no novo Egito? 

Ele visitou nosso país, ficou por três dias e voltou ao Catar. Aqui, é apenas uma voz entre muitas outras. Qaradawi apresentou um islamismo moderado, tolerante e pacífico para muitas pessoas. Por isso, muita gente confia nele. É um sábio.

Fonte: Site do MRE


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