Abdelmalek Sayeh, chefe do Escritório Nacional Argelino para Combate às Drogas e Dependência, informou que “a AQIM possui laços estreitos com gangues de narcotráfico brasileiras, colombianas e mexicanas.”
ARGEL, Argélia – Os governos no norte da África estão preocupados com a crescente presença de traficantes da América Latina que estão usando a região como base para o contrabando de drogas para a Europa.
A região do Saara e a parte sul do deserto – conhecida como Sahel – se tornaram um ponto de transporte para as drogas, principalmente cocaína e heroína, destacou o governo argelino em abril de 2010.
O relatório divulgou que 52 toneladas de narcóticos vindas da América Latina foram apreendidas na região do Sahel em 2009, uma quantidade 60 vezes maior do que a confiscada apenas alguns anos antes.
“Aviões carregados com cerca de 4 toneladas de cocaína a cada vôo aterrisaram diversas vezes no Mali e na Mauritânia em 2009”, revela o relatório.
Mais de 20 toneladas cruzaram esses dois países em 2009, ainda segundo o relatório.
“Os cartéis de droga da América Latina intensificaram suas atividades na África”, afirmou Mohamed Benhammoue, presidente da Federação Africana de Estudos Estratégicos, “principalmente depois que se conectaram com redes terroristas filiadas à Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQIM)."
Abdelmalek Sayeh, chefe do Escritório Nacional Argelino para Combate às Drogas e Dependência, declarou que “a AQIM possui laços estreitos com gangues de narcotráfico brasileiras, colombianas e mexicanas.”
“Uma grande parte dessas drogas cruzou o corredor de Sahel”, acrescentou. “[O] dinheiro ganho das gangues do narcotráfico é investido na compra de armamentos no Sahel para fortalecer a AQIM.”
Sayeh informou ainda que o governo argelino possui provas indicando que as drogas contrabandeadas para o Sahel seguem três destinos primários: o primeiro é o Golfo Pérsico, o segundo, a Europa, e o terceiro, a América do Norte, principalmente Estados Unidos e Canadá.
O governo argelino concluiu ainda que a cocaína enviada do Brasil e da Colômbia chega na África escondida em navios e aeronaves, antes de seguir em diferentes barcos e aviões para a América do Norte.
Sayeh denunciou que traficantes “pagam uma grande soma em dinheiro para alguns xeques tribais e a AQIM no Sahel para garantir o transporte das cargas de cocaína e cannabis (para a produção de maconha e haxixe).”
Em vários casos, os narcotraficantes cooperaram com terroristas para o transporte das drogas do Sahel para o norte da Argélia, acrescentou ele.
Elias Boukraa, diretor em exercício do Centro Africano para Pesquisa e Estudo do Terrorismo (CAERT) em Argel, declarou durante um seminário sobre segurança na região que as duras condições de vida enfrentadas pelos moradores da região e a pobreza generalizada “abriram o caminho para a expansão do narcotráfico.”
O comércio ilegal de drogas tem desempenhado um papel fundamental em alinhar os grupos armados africanos com narcotraficantes da América Latina e do resto do mundo. Os cartéis colombianos estão tentando estabelecer presença no Mali, Níger, Chad e Mauritânia, afirmou Boukraa.
Boukraa acrescentou que as redes de narcotráfico estão agindo deliberadamente para comprometer a segurança nesses países e encobrir suas atividades criminosas. A intenção de usar o Sahel como uma base do narcotráfico tem levado grupos do crime organizado a gastar seu dinheiro pela região.
“Pelo menos 50 toneladas de heroína são transportadas diariamente através dos países do Sahel, e um montante de € 100 milhões (R$230 milhões) [em dinheiro] é contrabandeado todos os anos”, detalhou Boukraa. “Isso significa que uma organização como a AQIM tem um orçamento gigantesco que pode ser maior até do que o de alguns países do Sahel.”
Mohamed Slimani, acadêmico e pesquisador em questões de segurança, descreveu que “algumas das redes que lidavam com cannabis indiano passaram a contrabandear cocaína através dos países do Sahel, da Argélia rumo à Europa.”
Slimani afirmou que essas redes preferem lidar com quantidades menores de drogas prontas, como cocaína e heroína, em vez de tentar transportar toneladas de cannabis indiano para a Europa. O contrabando de cannabis é mais comum no norte da África.
Slimani ressaltou ainda que relatórios de segurança indicam que o tráfico de cocaína é predominante pelo Sahel, principalmente em Guiné-Bissau, Guiné, Senegal, Mauritânia, Mali e Níger.
“A vigilância severa imposta por países europeus às gangues do tráfico tem forçado uma mudança na rota de aeronaves pequenas carregadas de drogas de seus destinos regulares em Portugal e na Espanha para os países do Sahel africano, principalmente Mauritânia, Mali e Senegal”, explicou Slimani. “Isso, além da cocaína enviada aos portos nigerianos no Oceano Atlântico, proveniente dos países da América Latina, principalmente Colômbia, Peru, Argentina e Brasil."
Fonte: Infosur Hoy
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