terça-feira, 24 de agosto de 2010

O Jovem Homem-Bomba - Aos 18 anos de Idade ele se explodiu em Jacarta








Em julho de 2009, um rapaz de 18 anos de idade entrou no lobby do hotel JW Marriot em Jacarta, capital da Indonésia e se explodiu. Cinco morreram e muitos ficaram feridos no ataque.

 
A polícia identificou rapidamente o suicida como sendo Dani Dwi Permana - uma adolescente sem antecedentes criminais ou históricos de violência.

Então, o que poderia ter levado o jovem a cometer tal ato? Era essa a questão que afligia o irmão mais velho de Dani, Jaka Karyana, e um ano após aquele dia, ele partiu para descobrir a resposta.

Os cineastas Lynn e James Leong viajaram com Jaka em sua busca emocional para descobrir o que transformou o seu irmão em um militante suicida.

Quando assistimos o noticiário na TV há quase um ano - um atentado suicida no JW Marriot Hotel em Jacarta e outro no final da rua no Ritz Carlton. Havia restos de vidros quebrados, uma multidão de repórteres e equipes de câmera. Vimos sacos com corpos em frente aos hotéis. Mas, o que realmente nos chamou a atenção foi às imagens liberadas pela polícia e mostradas pela CCTV, de um jovem esguio, bastante calmo, carregando sua bagagem pelo lobby do Marriot... e, em seguida, a explosão. Este era Dani Dwi Permana. Ele tinha apenas 18 anos quando morreu.

Por que um adolescente cometeria tal ato? Em março deste ano, o tema surgiu durante uma conversa com amigo editor da revista. Um de seus freelancers havia se encontrado recentemente com a família de Dani. Perguntei-lhes então se estariam interessados em compartilhar sua história em um documentário de TV. O pedido foi seguido de telefonemas e emails. Ficamos um pouco surpresos quando eles concordaram.

Desde o inicio, tínhamos a intenção de construir nosso filme em torno do irmão mais velho de Dani. Jaka Karyana havia deixado a universidade para apoiar seu irmão mais novo, depois que seus pais se separaram.


Uma vida ordinária

Antes de irmos para Jacarta, não tínhamos idéia o quanto Jaka estava disposto a compartilhar. Mas, ele nos surpreendeu com sua franqueza. Era como se quisesse nos mostrar um lado de Dani que ninguém conhecia. Passávamos horas ouvindo história de suas infância, os jogos que jogaram, o que sofreram, o fato de que Dani amava jogar basquete. Jaka queria que soubéssemos que havia mais no seu irmão do que uma tragédia terrível. O homem-bomba também foi uma criança normal. E isso foi talvez o que mais nos chocou em sua história, a simplicidade da vida que levavam antes de seus pais se separarem. Um pai que trabalhava como segurança, uma mãe que cuidava da casa, uma casa em um bairro tranqüilo em uma agradável parte da cidade, por fim orações à noite.

A mãe de Jaka teve o cuidado de nos dizer que seus filhos eram bons garotos: "Muitas crianças se envolvem com drogas, Jaka e Dani nunca se envolveram".

Então o que aconteceu?

Quatro meses antes do ataque terrorista, o pai dos jovens, Zulkifli, foi preso e condenado por roubo. Eles perderam sua casa. Sua mãe, Kartini, simplesmente desmoronou emocionalmente, incapaz de lidar com a situação, ela decidiu voltar para sua cidade natal em Kalimantan. Kartini levou seus dois filhos menores com ela. Enquanto Jaka e Dani foram deixados à própria sorte.

Quatro meses. Pouco tempo, mas o suficiente para Dani se transformar. Quatro meses vivendo por conta própria, sem outro adulto por perto para lhe dar suporte emocional além do clérigo religioso que o convenceu a fazer o "sacrifício supremo".


A comunidade


Seis pessoas, incluindo Dani, foram mortas no ataque e muitas outras ficaram feridas.

Se Jaka e sua família estavam dispostos e abertos a partilhar, as pessoas em sua comunidade eram completamente o oposto.

Por várias vezes solicitamos autorização para filmar dentro da Mesquita que Dani freqüentava, mas sempre fomos impedidos. Os velhos amigos de Dani, inicialmente concordaram em nos encontrar, depois adiaram por duas vezes, até cancelarem de vez o encontro.

Passamos um dia frustrante na velha escola de Dani, tentando convencer sua ex-diretora a conversar. Queríamos dar a ela uma chance de explicar por que era difícil identificar um suporto homem-bomba entre seus alunos. Em vez disso, ela convocou Jaka ao seu escritório e passou horas a interrogá-lo sobre o filme.

Era como se a comunidade se sentisse marcada por sua associação com Dani. Seu crime, embora não seja deles, era algo sobre o qual eles não desejavam falar, ou até mesmo relembrar.

Durante as filmagens, conseguimos organizar um encontro entre Jaka e Nasir Abbas, um ex-membro do grupo terrorista Jemaah Islamiyah que tem ligações com a Al-Qaeda. Abbas agora é uma importante voz contra a Jihad além de conhecer Noordin Top, o homem que planejou o ataque suicida de Dani.

Queríamos ver Abbas para podermos ir a fundo na pesquisa e Jaka estava bastante ansioso para saber mais. Nasir concordou então em marcar uma reunião. Eles conversaram por mais de duas horas, e o centro da discussão foi entorno de que a ação de Dani foi fruto de uma lavagem cerebral ou escolha própria.


"Nunca o abandonarei"


No final, foi abordado o assunto que pensamos que seria bastante difícil - a religião. Mas, mesmo assim, Jaka foi surpreendentemente tranqüilo. Ele admitiu inicialmente ter tido raiva de Deus, mas disse que acabou chegando a um acordo com sua fé.

Jaka foi categórico na sua afirmação de que o Islã é uma religião boa, uma religião que ensina as pessoas a não fazer coisas ruins. Kartini também nos disse que uma das primeiras coisas que fez após saber da morte de Dani foi rezar.

Porque Dani fez o que fez? As respostas são muito mais complexas do que inicialmente acreditávamos. Alguém poderia ter feito algo para detê-lo? Nós nunca saberemos.

 O que fica claro é que Jaka está determinado a nunca deixar a historia se repetir em sua família. Nossos últimos minutos de filmagem são dos meninos e sua mãe se divertindo em uma piscina pública. Jaka está segurando seu irmão mais novo que não sabe nadar, prometendo que ele nunca irá deixá-lo.


Fonte: Al Jazeera

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