segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Drogas: PCC e ‘Al Qaeda’ travam guerra na Paraíba

Mais de 40 operações das polícias realizadas na Paraíba nos últimos sete anos comprovam que facções do crime organizado, como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho), criadas por presos de outros Estados, continuam agindo, recrutando pessoal e se estruturando no Estado com a ajuda de policiais. E mais do que isso: novos grupos estão surgindo, principalmente na periferia de bairros da Grande João Pessoa e Campina Grande e travando entre eles uma verdadeira “guerra” pelo poder, domínio de crimes e pela disputa da rede de tráfico de drogas, que movimenta fortunas.


A rede de tráfico de drogas teria movimentado na Paraíba pelo menos R$ 389 milhões, em quase quatro anos e meio (de 2005 a abril de 2009). A estimativa de lucro foi feita com base em estatísticas de apreensões da Polícia Federal no Estado e projeções da Organização das Nações Unidas (ONU), que estima que, em todo o mundo, o aparelho policial só consegue apreender em torno de 10% da droga que entra e circula nos Estados.


A Operação Quark, realizada em maio deste ano – que desarticulou uma rede de traficantes de drogas com atuação na Paraíba, em Pernambuco, Rio Grande do Norte e Rondônia – detectou que a facção paulista PCC está se fortalecendo e se estruturando em toda Paraíba.


“O PCC já foi fraco aqui, mas agora está havendo uma estruturação para todo o Estado. Além disso, está brigando pela liderança do tráfico e de outros crimes com outro grupo, que se diz seguidor da facção Al Qaeda”, afirmou o delegado Állan Murilo Barbosa Terruél, que comandou a operação. Somente essa rede movimentava mais de R$ 1,5 milhão por mês e era articulada por presidiários através de ligações de celular, com chip empresarial.


Para o delegado do Grupo de Operações Especiais da Polícia Civil (GOE), Wallber Virgolino, que investiga a atuação do PCC no Estado, daqui a cinco anos, essa facção poderá estar sem controle, caso não haja um combate integrado com todas as polícias. “Se as polícias e os poderes constituídos não se unirem para desenvolver um trabalho com seriedade e um combate efetivo ao crime organizado e as facções que estão se estruturando e ganhando força na Paraíba, daqui a cinco anos, vai ocorrer aqui o que já está acontecendo em outros Estados do Nordeste como Alagoas, onde foi descoberto, no início deste mês, um plano do PCC para matar juízes, promotores e o filho de um desembargador”, prevê Virgolino.



Mas que Al Qaeda é essa?

 


“Os policiais não estão preparados para combater o crime organizado e alguns estão envolvidos com ele. As principais políticas de combate ao tráfico estão falidas porque atacam apenas a droga e, às vezes, o patrimônio dos traficantes, mas não combatem toda a rede, que é forte e movimenta muito dinheiro”, acrescentou Terruél.


As organizações criminosas enraizadas em penitenciárias das regiões Sul e Sudeste do país chegaram aos presídios da Paraíba. No Estado, detentos radicados em presídios de João Pessoa criaram um grupo intitulado ‘Al Qaeda’, uma espécie de filial seguidora do Primeiro Comando da Capital (PCC) de São Paulo, que já teria mais de 100 membros no Estado.

A confirmação da existência das ligações, de acordo com o secretário de Cidadania e Administração Penitenciária da Paraíba (Secap), Carlos Mangueira, foi feita através de investigações realizadas pelas polícias Federal e Civil em parceria com a Secap.

Além do PCC, presos paraibanos possuiriam fortes ligações com integrantes do Comando Vermelho do Rio de Janeiro, uma facção criminosa que comanda boa parte das favelas e presídios cariocas. “Não há dúvida da presença na Paraíba de grupos criminosos como o PCC e o Comando Vermelho, assim como em presídios de outros Estados do país. Na Paraíba há uma variação vinculada ao PCC que se chama ‘Al Qaeda’, que é um grupo local radicado em João Pessoa dentro de alguns presídios e também fora, nas ruas”, revelou ontem Carlos Mangueira, durante a apresentação dos resultados de uma operação ‘pente fino’ no presídio do Serrotão, em Campina Grande.

De acordo com ele, todos os presos que foram identificados como tendo ligações com os grupos são isolados em pavilhões separados ou até mesmo transferidos, como aconteceu no mês de março deste ano, quando oito detentos paraibanos foram transferidos a pedido da Polícia Federal para a Penitenciária de Segurança Máxima em Porto Velho/RO. O principal abrigo do ‘PCC paraibano’, conforme o secretário, atualmente seria o presídio Desembargador Flósculo da Nóbrega, o ‘Róger’.

“O Róger é um presídio com mais de mil presos. Dizem que há mais de 100 elementos ligados a esse grupo. E certamente há em outros presídios também, e muitas vezes tem um comando único, transmitido de uma prisão para outra. Havia rumores há muitos anos, porque grande parte dos crimes identificados pelas polícias tem origem de dentro dos presídios. As investigações são feitas pelas polícias e temos de combater, porque temos de ter ações do Estado para impedir que eles tomem conta dos presídios. No Serrotão até agora não identificamos, mas como agora nós tomamos na prática de conta do presídio, o Estado está impondo sua ordem e buscaremos identificar a hipótese da existência de grupos aqui também”, asseverou Carlos Mangueira.

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