domingo, 19 de dezembro de 2010

Sakineh e Asia Bibi – O adultério e a Blasfêmia

Asia Bibi
Jefferson Nóbrega

Sakineh Mohammadi Ashtiani, a muçulmana iraniana acusada de assassinato e adultério, foi condenada a morte por apedrejamento segundo a lei islâmica (sharia). Asia Bibi uma cristã paquistanesa, foi condenada a forca pelo “terrível” crime de “blasfêmia”. Histórias possivelmente semelhantes diante dos primeiros olhares, mas com diferenças substanciais, que pode levar uma “apenas” a prisão e outra a execução.

A campanha pela vida de Sakineh, iniciada pela família e por seu advogado, ganhou primeiramente destaque na internet, em especial nas redes sociais, depois chegou à grande mídia, e posteriormente ganhou a adesão de governos de todo o mundo. Chegando inclusive a resultar em uma resolução da ONU condenando a execução por apedrejamento.

Ativistas dizem que o governo tenta ressuscitar a acusação de assassinato contra a iraniana, devido à pressão internacional, Sakineh já teria ficado presa cinco anos por ser cúmplice do assassinato do marido e recebido 99 chibatadas.

A Iraniana Sakineh Ashanti
Recentemente, segundo noticiou a BBC, foi enviada uma carta endereçada ao aiatolá Khamenei e ao presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad, assinada por mais de 80 artistas, acadêmicos, políticos e atores, entre eles o diretor brasileiro Fernando Meirelles, Robert de Niro, Sting, Robert Redford, Juliette Binoche, Mia Farrow, os escritores V. S. Naipaul e Wole Soyinka e o líder do Partido Trabalhista britânico, Ed Miliband, onde pediam a libertação imediata de Sakineh, de seu filho Sajad Ghaderzade e de seu advogado Javid Houtan Kian, presos por terem divulgado o caso para a mídia ocidental. Sob os holofotes internacionais Sakineh continua viva, apesar de sua liberdade não ser cogitada pelo governo iraniano.

No Paquistão, Asia Bibi, uma trabalhadora Cristã, mãe de cinco filhos, foi abordada por um grupo de mulheres muçulmanas enquanto trabalhava. As mulheres tentavam convertê-la ao Islã. A tentativa acabou por se tornar uma acalorada discussão. Até que Asia já cansada daquela situação disse: “Jesus morreu na cruz por amor a toda humanidade, e Maomé o que fez por vocês?”.

Após essa pergunta, as mulheres começaram a espancá-la impiedosamente, logo depois a trancaram em um quarto, onde foi estuprada e torturada por um grupo de homens. Após pressão dos clérigos locais, Asia Bibi foi presa pelo governo sob acusação de “blasfêmia” contra o profeta Maomé.

No início do mês de novembro ela foi condenada a execução na forca por crime de blasfêmia. Há alguns meses enquanto aguarda a execução, ela tem recebido visitas constantes de clérigos na tentativa de convertê-la ao Islã, pois caso ela renegue sua fé Cristã a sentença será revogada, na última visita que recebeu, estava presente também o juiz que lhe condenou a morte, e ela corajosamente declarou: “Prefiro morrer Cristã ao sair da prisão sendo muçulmana”.

Mas, o caso de Asia Bibi não atraiu a mesma atenção que Sakineh. Sua história só chegou a nós graças à internet e ao pronunciamento do Papa Bento XVI por sua vida, as campanhas que surgiram, partiram da mídia independente e de Organizações de direitos Humanos, assim como organizações cristãs.

As assinaturas recolhidas na campanha foram entregues ao governo Paquistanês. O presidente chegou a preparar a libertação da Cristã, mas foi barrado pela justiça e pela pressão de grupos muçulmanos do país.

Recentemente o imã Yousef Qureshi, ofereceu 500 mil rúpias pela morte de Asia caso ela seja liberta. O grupo Jamaat-e-Islam também saiu as ruas exigindo a execução da Cristã. Asia Bibi é uma amostra da lei de “crime de blasfêmia” que tem sido usada como instrumento de extermínio das minoras religiosas do Paquistão.

Para a Cristã paquistanesa, que ainda aguarda a execução, só a liberdade não lhe garante a vida, pelo contrário, solta ela corre mais perigo do que presa, pois é comum “blasfemos” serem executados por extremista islâmicos no país. Esse seria o momento de algum país oferecer-lhe abrigo, no entanto, o que vemos é apenas a indiferença. No caso Sakineh o Brasil chegou a oferecer asilo para a iraniana, já com Asia Bibi impera o silêncio por quase todos os lados.

Fica evidente ao compararmos as duas condenações, a motivação política que impulsiona os governos a intercederem em favor de Sakineh e a fechar os olhos para Asia Bibi.

Ao exigirem a liberdade de Sakineh, países como EUA, Grã-bretanha, França e outros, confrontam diretamente o regime iraniano que tem sido acusado de usar seu programa nuclear para fins bélicos. No entanto, o Paquistão é visto por estes, como um aliado no mundo muçulmano. Portanto, confronta-lo diretamente poderia causar um desconforto e até uma crise nas relações dos governos ocidentais com o presidente Asif Ali Zardari.

De forma nenhuma quero me opor à atenção dada a Sakineh Ashtiani, o que destaco é a causa política que faz com que se fechem os olhos para as condenações contra a minoria cristã do Paquistão, fazendo com que não haja muita esperança para pessoas como Asia Bibi, que foram condenadas pelo simples “crime” de professarem uma fé diferente da maioria.


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