Jamil Chade, correspondente em Genebra
Atualizado às 18h08
Televisão estatal iraniana divulgou fotos da iraniana em liberdade.
A iraniana Sakineh Mohamadi Ashtiani, condenada à morte por adultério e cumplicidade na morte do marido, foi libertada, informa o Comitê Internacional contra Execuções. A informação ainda não foi confirmada pelo governo do Irã.
Segundo o jornal espanhol El País, o filho da iraniana, Sajjad Ghaderzadeh, e seu advogado, Javid Houtan Kian, presos por fazer campanha contra a prisão de Sakineh, também foram libertados. A confirmação da libertação será anunciada pela televisão estatal iraniana em breve.
Ainda de acordo com o jornal, dois jornalistas presos por envovimento com o caso também foram soltos. Fontes iranianas afirmaram que a libertação foi realizada mediante pagamento de fiança, embora a quantia não tenha sido informada.
"A libertação só ocorreu por causa da pressão internacional, disse Mina Ahadi, presidente do Comitê Internacional contra Execuções, com base em Berlim, e que atua como uma espécie de representante de Sakineh na Europa.
"Estou certa de que esse dia estará escrito nos livros de história do Irã, se não nos livros de história de todo o mundo, como uma data da vitória dos direitos humanos", disse ela ao jornal britânico The Guardian.
Entre as pessoas citadas pela ativista estão o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Ele foi importante nesse processo e o fato de que Dilma (Rousseff) tenha sido ainda mais forte em suas críticas também ajudou muito", afirmou Mina, uma iraniana refugiada, ao Estado
Lula chegou a oferecer asilo à iraniana, mas, há apenas duas semanas, o Brasil se absteve em uma votação de uma resolução na ONU que condenava o Irã por apedrejamento. Dilma criticou o voto do Itamaraty.
Mina, porém, alerta que se a batalha foi vencida, "a ainda guerra não". Um total de 26 pessoas ainda aguardam nas prisões iranianas para serem executados por apedrejamento. "Temos de lutar para isso nunca mais ocorrer", afirmou.
Sakineh chegou a aparecer em uma TV admitindo seus crimes e o governo do Irã insistiu que a comunidade internacional estava politizando o assunto para pressionar Teerã. O Irã chegou a sugerir que o Ocidente liberasse de suas prisões "todos os assassinos" e alertou que não aceitaria nenhuma ingerência em seus assuntos domésticos.
Na quinta, o governo iraniano fez questão de lucrar com a libertação. O anúncio da libertação foi anunciada um dia antes do Dia Internacional dos Direitos Humanos e fotos da iraniana e de seu filho foram divulgadas. No principal programa da noite em Teerã, a notícia foi revelada ao público iraniano, como uma demonstração de que o sistema Judiciário é "justo e funciona".
O caso
Sakineh foi condenada em 2006 por manter relações com dois homens após ficar viúva, o que, segundo a lei islâmica, também é considerado adultério. Ela foi condenada a 99 chibatadas. Depois, esta pena foi convertida em morte por apedrejamento.
Em julho deste ano, seu advogado Mohammad Mostafaei tornou público o caso em um blog na internet, o que chamou a atenção da comunidade internacional. Perseguido pelas autoridades iranianas, ele fugiu para a Turquia, de onde buscou asilo político na Noruega.
A sentença de apedrejamento foi suspensa, mas ainda pode ser retomada pela Justiça. Um tribunal de apelações acrescentou ao caso a acusação de conspiração para o assassinato do marido, da qual ela continua condenada a morte por enforcamento.
O Irã raramente realizou execuções por apedrejamento nos últimos anos. Em 2009, porém, o país executou 388 pessoas, ficando atrás apenas da China, segundo dados da ONG Anistia Internacional. A maioria delas foi enforcada.
Fonte: Estadão
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