sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Liderança do islão sunita corta relações com o Vaticano

A mais alta instância do islão sunita, a Al-Azahr, que tem sede no Cairo, anunciou a suspensão das suas reuniões com o Vaticano na sequência dos “ataques” do Papa Bento XVI contra o islão.

Bento XVI diz querer prosseguir com o diálogo com a Al-Azahr (Alessia Pierdomenico/Reuters)

“O congelamento foi provocado pelos ataques repetidos contra o islão de Bento XVI (…) O Papa repetiu que os muçulmanos oprimem os não-muçulmanos que vivem com eles no Médio Oriente”, refere um comunicado da Al-Azhar, citado pela agência oficial egípcia Mena.

O Vaticano reagiu afirmando querer prosseguir com o diálogo com a Al-Azahr. “Aconteça o que acontecer, a linha de abertura e de desejo de diálogo do Conselho Pontifício para o diálogo inter-religioso mantém-se inalterada”, declarou o porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi.

A Al-Azhar e o Vaticano mantinham reuniões duas vezes por ano para discutir questões de cooperação. A decisão de suspender estes encontros foi tomada durante uma reunião extraordinária da Academia de estudos islâmicos Al-Azhar, dirigida pelo grande imã da instituição, o xeque Ahmed al-Tayyeb.

No dia 11 de Janeiro, o Cairo chamou para consultas o seu embaixador no Vaticano, criticando o Papa por este ter pedido a protecção dos cristãos do Médio Oriente após o atentado na noite de Ano Novo contra uma igreja copta de Alexandria (21 mortos). Na altura, o governo egípcio considerou as declarações de Bento XVI como uma “ingerência inaceitável”.

O Egipto também recusou “qualquer iniciativa” estrangeira que utilizasse este atentado como justificação para “promover a protecção dos cristãos do Médio Oriente”.

Horas depois do atentado de Alexandria, o Papa sublinhou a “necessidade urgente” dos governos do Médio Oriente adoptarem, “apesar das dificuldades e ameaças, medidas eficazes para a protecção das minorias religiosas”. Já este mês, o Papa também se declarou favorável às inciativas com vista a uma “resposta concertada da União Europeia para que os cristãos sejam defendidos no Médio Oriente”.

Em diversas ocasiões, depois do atentado de Alexandria, o Egipto garantiu a segurança dos seus cidadãos, seja qual for a sua confissão religiosa. Os coptas, a principal comunidade cristão na região do Médio Oriente, são na sua maioria ortodoxos, mas também contam com uma minoria católica. Representam entre 6 a 10 por cento dos cerca de 80 milhões de egípcios, que na sua grande maioria são muçulmanos sunitas, e queixam-se regularmente de serem marginalizados.


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