terça-feira, 12 de abril de 2011

Entrevista com dois Jihadistas da Líbia

Lourival Sant'Anna - O Estado de S.Paulo
 
Militância. Al-Zwei (E) e Al-Madhouni, veteranos da guerra afegã
Os combatentes rebeldes são chamados de "shebab", que em árabe significa jovens. A maioria deles não passa disso: jovens idealistas, muitos universitários de classe média, cujos pais bem relacionados os pouparam até do serviço militar obrigatório e, por isso, nunca pegaram em uma arma antes. Quando os foguetes começam a cair perto deles, sobem no carro e fogem apavorados.

Em contraste, há um pequeno grupo de homens na casa dos 40 anos, de barba espessa, rostos enrugados e olhar de quem já viu outras guerras. Eles avançam sob a barragem de foguetes sentados nos bancos de suas peças de artilharia montadas sobre carrocerias de caminhonetes, disparando os canhões de 14,5 ou 23 milímetros e gritando: "Allah-u-akbar", (Deus é grande). Eles não têm medo da morte, suas armas não são páreo para os foguetes das brigadas de elite de Muamar Kadafi, mas sabem o que estão fazendo. 

São líbios veteranos do Afeganistão, que agora lutam a jihad em seu próprio país, depois de terem passado parte de sua vida no exílio ou na temida prisão de Abu Salim, em Trípoli, que Kadafi reserva aos dissidentes. São os homens do Al-Jamaa al-Islamiya al-Mokatila, ou Movimento Combatente Islâmico, que está na lista da ONU de organizações terroristas internacionais e é considerada, no Ocidente, a filial da Al-Qaeda na Líbia. 

Dois de seus líderes voltaram do exílio recentemente e concordaram em falar ao Estado, em sua primeira entrevista na Líbia, e também a primeira em que deram seus nomes e se deixaram fotografar. "Chega de nomes de guerra", disse Abdul Manem al-Madhouni, de 41 anos, no único momento em que quase esboçou um sorriso. "Está tudo acabado", completou, referindo-se a Kadafi, que foi alvo de quatro tentativas de assassinato do Al-Mokatila, entre 1994 e 1997, uma vez por ano. 

O ditador reprimiu violentamente o movimento, com o objetivo de esmagar qualquer organização opositora. Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, o ditador passou a usar a repressão em favor de sua reabilitação no Ocidente, assumindo o papel de dique contra a expansão da Al-Qaeda no Norte da África.

Exílio iraniano. Al-Madhouni voltou do Irã, onde viveu nos últimos nove anos e meio - sete anos e meio dos quais em prisão domiciliar, de acordo com ele por ter entrado ilegalmente no país, vindo do Afeganistão, no calor dos atentados de 11 de Setembro.

Abdullah Mansour al-Zwei, de 42 anos, hesita em dar seu nome, porque pretende voltar à Grã-Bretanha, onde se exilou depois do atentado ao World Trade Center, também vindo do Afeganistão e do Paquistão. No entanto, acaba cedendo. "Esse é o meu nome verdadeiro, não como sou conhecido lá." Ambos são do conselho de 12 integrantes que dirige o movimento. Eles foram para o Afeganistão em 1989, quando tinham cerca de 20 anos, para lutar na jihad contra os invasores soviéticos, no fim da guerra que durou dez anos.

Al-Maddhouni e Al-Zwei chegaram ao Afeganistão alguns meses antes da criação da Al-Qaeda. Admitem que conviveram com Osama bin Laden e lutaram lado a lado com ele. "Viajei com Bin Laden de Jeddah, na Arábia Saudita, para o Paquistão", recorda Al-Zwei, que estudou teologia islâmica na cidade saudita de Medina. "Ele era um homem normal, apenas rico, que ajudava as famílias dos combatentes." 

Lista do terror. A Al-Qaeda seria formada meses depois, com esse propósito. "Nós rezávamos do lado dele na mesquita, como qualquer outro", completa Al- Maddhouni, que estudou teologia e assuntos militares tanto no Paquistão como no Afeganistão. 

Eles dizem que se reuniram "muitas vezes" com Bin Laden, "todas antes do 11 de Setembro". Segundo contam, eles não se aliaram à Al-Qaeda porque consideravam que deviam concentrar sua luta na Líbia, e não abraçar a causa contra os Estados Unidos. Após a derrota dos soviéticos, ambos continuaram por mais 12 anos no Afeganistão, onde tinham campo de treinamento, armas e segurança.

O grupo estuda formas de ser retirado da lista da ONU, argumentando que não está ligado à Al-Qaeda nem ao terrorismo islâmico internacional. No esforço para se livrarem desse estereótipo, eles resolveram mudar seu nome para Al-Harakat al-Islamiya al-Libya (Movimento Islâmico Líbio).
Eles afirmam também que não querem introduzir uma teocracia islâmica na Líbia, que não lutam com a bandeira de seu grupo, mas da Líbia independente, adotada pelos "revolucionários". Ambos se colocaram sob o comando do general Khalifa Hafter, comandante das Forças Armadas rebeldes.
O movimento tem entre 500 e 600 integrantes, que deixaram a prisão a partir de 2006, como parte de um programa de reformas conduzido por Seif al-Islam, filho de Kadafi. Outros 30 continuam presos. Eles transmitem aos jovens as táticas da guerra de guerrilha, com as quais os afegãos e os muçulmanos do mundo inteiro, que se uniram naquela jihad, derrotaram a então poderosa União Soviética. 

Em todos os cantos do mundo muçulmano, da Argélia à Indonésia, os "afegãos", como são conhecidos, já desempenharam esse papel nos seus respectivos países. O convívio no Afeganistão os tornou uma irmandade internacional. Voluntários de outros países já se ofereceram para vir lutar na Líbia, mas os líderes rebeldes recusam a presença de estrangeiros nos combates.
Teocracia na Líbia. Al-Maddhouni e Al-Zwei, que obtiveram autorização do conselho para conceder esta entrevista, afirmam que o Movimento Islâmico Líbio aceita o conceito de democracia, "desde que não viole os princípios do Islã". 

À pergunta sobre se o grupo pretende impor a todos os líbios as normas de conduta islâmicas, Al-Maddhouni responde: "Primeiro, precisamos construir um Estado de Direito, com base na liberdade." No entanto, acrescenta: "A Líbia é um país muçulmano." 

Al-Zwei continua: "Somos iguais aos outros grupos, aos liberais, que pensam que a proposta deles é a melhor para o país. Mas não queremos obrigar o povo nem eliminar os outros." 

Eles temem pelo perigo da polarização política entre os líbios. "É melhor a Líbia continuar sob Kadafi do que se transformar em um Iraque ou em uma Somália", afirmam. Os líderes islâmicos líbios não esperam nenhum resultado imediato, além de derrotar Kadafi. "Temos uma missão muito longa. A Líbia recomeçará do zero." 

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