AdnKronos : 10 de novembro de 2010
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Foto: AKI
Tradução e links: DEXTRA
ITÁLIA: Otranto, 10 de novembro (AKI) – Os cristãos coptas, as mulheres e outras minorias estão pagando o preço da crescente islamização da sociedade egípcia, disse à Adnkronos International (AKI) o importante autor e intelectual egípcio Tarek Heggy. A oposição fundamentalista da Irmandade Muçulmana foi um dos grupos responsáveis e está doutrinando os jovens através de seu trabalho social, diz Heggy.
“Eu acredito que o maior problema para os coptas no Egito está relacionado ao ambiente cultural como um todo. Quanto mais radical a sociedade se torna, pior a situação fica. Isto também vale para os bahaí's," diz Heggy, referindo-se a uma pequena minoria religiosa que agora conta com apenas algumas centenas de membros no Egito.
Heggy falou desde a cidade de Otranto, na costa sul da Itália, onde recebeu, em 2008, o prestigioso prêmio Grinzane Terra D'Otranto pelo diálogo, tolerância, solidariedade e integração.
Os coptas - que formam cerca de 10 por cento da população do Egito e a maior comunidade cristã no Oriente Médio - têm sido viítimas de ataques periódicos por parte de linha-duras islâmicos em anos recentes.
A islamização da educação em décadas recentes é uma das grandes causas da mentalidade intolerante que se desenvolveu no Egito, a qual a Irmandade Muçulmana ajudou a criar, sob o disfarce de ajuda a comunidades locais, afirma Heggy.
“A Irmandade Muçulmana é bem vista pelo egípcio médio, que associa o governo a autocracia, corrupção e repressão," diz Heggy.
”O grupo é visto como menos corrupto e mais solidário às pessoas, e servindo a elas no real campo das necessidades - saúde e educação."
A Irmandade Muçulmana dá amplo auxílio a comunidades locais, incluindo assistência médica e aulas particulares para crianças em idade escolar por uma taxa simbólica - um grande atrativo para os egípcios pobres, muitos dos quais vêem o grupo positivamente.
Uma visita a um dentista convencional custa 12 euros - metade do salário mensal de um professor - sendo que há em média 80 crianças por sala de aula nas escolas públicas, diz Heggy.
"O governo egípcio está tratando a Irmandade Muçulmana apenas como um assunto de segurança," ele diz.
"Mas é um problema cultural, social, político, educacional, religioso e econômico."
Um dos mais importantes estrategistas da indústria petrolifera e ex diretor-executivo da gigante do petróleo Shell, Heggy escreveu mais de 20 livros, incluindo cinco em inglês. Democracia, tolerância e direitos das mulheres aparecem em seus trabalhos sobre o Egito e o Oriente Médio.
Ele defende a auto-crítica e amplas reformas na região, incluindo a reforma dos currículos escolares.
A influência fundamentalista wahabita penetrou na educação no Egito, onde a literatura, poesia e peças árabes foram substituídas nas escolas pelos textos sagrados islâmicos, diz Heggy.
Até os anos 60, o Egito era uma sociedade verdadeiramente mediterrânea, mas ela foi gradualmente substituída pela cultura árabe/beduína.
Além das escolas, as mesquitas e a mídia do país - rádio e TV - também foram islamizadas, diz ele.
“As quatro entidades que mais têm infulência sobre as pessoas também foram influenciadas por culturas anti-seculares," declara Heggy.
A Constituição egípcia de 1971 define o Islam com a religião do Estado e a principal fonte da lei.
“O problema copta é o da pressão sobre uma minoria, intolerância em relação aos outros e uma falta de aceitação do pluralismo. Quanto mais o Egito é influenciado pela interpretação wahabita do Islam, pior para os coptas," diz Heggy.
Heggy publicou, ano passado, um ensaio polêmico 'If I were a Copt' [Se eu fôsse um copta], que apontou as injustiças que os coptas enfrentam no Egito.
Há 50 anos os coptas são impedidos de ocupar posições centrais na administração e política do Egito. A Universidade Al-Azhar, no Cairo, não aceita coptas em nenhuma de suas faculdades.
Exceto por uma doação feita pelo ex-presidente Gamal Abdel Nasser para a Catedral de São Marco, na Abbaseya, o estado egípcio não financia nenhuma igreja desde 1952. Os coptas também têm dificuldades em obter licenças para a construção de igrejas.
“Não pode haver solução para o problema de forma isolada da sociedade egípcia. Quando houver um grau razoável de liberdade na sociedade egípcia, haverá um grau razoável de liberdade para os coptas."
O sucessor do presidente Hosni Mubarak será a chave para o futuro do Egito, de acordo com Heggy. "Ele precisa de um líder competente, que possa trazer progresso econômico e social e melhorar as condições de vida de mulheres e homens."
Ele diz que o PIB percapita é de 1,200 dólares e que 25 por cento da população está desempregada, com o desemprego concentrado na faxa etária de 20 a 40 anos.
O desemprego elevado e o baixo padrão de vida do egípcio médio contrastam flagrantemente com a riqueza dos ministros do Egito, sete dos quais estão na lista de ricos da Forbes, diz Heggy. "Há um conflito de interesses entre estas pessoas e os interesses de longo prazo do Egito," ele ressalta.
Heggy deu palestras em muitas universidades e centros de pesquisas, incluindo a Universidade da Califónia, em Berkley, e o Instituto Washington para a Política para o Oriente Próximo. Ele também faz parte da direção ou é curador de numerosas instituições, incluíndo a Ordem dos Advogados do Egito, a Associação de Escritores do Egito, a Universidade de Artes e Ciências Modernas e a Escola para Moças da Universidade Ain Shams, no Cairo, e o Conselho de Educação Superior, em Abu Dhabi.
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ITÁLIA: Otranto, 10 de novembro (AKI) – Os cristãos coptas, as mulheres e outras minorias estão pagando o preço da crescente islamização da sociedade egípcia, disse à Adnkronos International (AKI) o importante autor e intelectual egípcio Tarek Heggy. A oposição fundamentalista da Irmandade Muçulmana foi um dos grupos responsáveis e está doutrinando os jovens através de seu trabalho social, diz Heggy.
“Eu acredito que o maior problema para os coptas no Egito está relacionado ao ambiente cultural como um todo. Quanto mais radical a sociedade se torna, pior a situação fica. Isto também vale para os bahaí's," diz Heggy, referindo-se a uma pequena minoria religiosa que agora conta com apenas algumas centenas de membros no Egito.
Heggy falou desde a cidade de Otranto, na costa sul da Itália, onde recebeu, em 2008, o prestigioso prêmio Grinzane Terra D'Otranto pelo diálogo, tolerância, solidariedade e integração.
Os coptas - que formam cerca de 10 por cento da população do Egito e a maior comunidade cristã no Oriente Médio - têm sido viítimas de ataques periódicos por parte de linha-duras islâmicos em anos recentes.
A islamização da educação em décadas recentes é uma das grandes causas da mentalidade intolerante que se desenvolveu no Egito, a qual a Irmandade Muçulmana ajudou a criar, sob o disfarce de ajuda a comunidades locais, afirma Heggy.
“A Irmandade Muçulmana é bem vista pelo egípcio médio, que associa o governo a autocracia, corrupção e repressão," diz Heggy.
”O grupo é visto como menos corrupto e mais solidário às pessoas, e servindo a elas no real campo das necessidades - saúde e educação."
A Irmandade Muçulmana dá amplo auxílio a comunidades locais, incluindo assistência médica e aulas particulares para crianças em idade escolar por uma taxa simbólica - um grande atrativo para os egípcios pobres, muitos dos quais vêem o grupo positivamente.
Uma visita a um dentista convencional custa 12 euros - metade do salário mensal de um professor - sendo que há em média 80 crianças por sala de aula nas escolas públicas, diz Heggy.
"O governo egípcio está tratando a Irmandade Muçulmana apenas como um assunto de segurança," ele diz.
"Mas é um problema cultural, social, político, educacional, religioso e econômico."
Um dos mais importantes estrategistas da indústria petrolifera e ex diretor-executivo da gigante do petróleo Shell, Heggy escreveu mais de 20 livros, incluindo cinco em inglês. Democracia, tolerância e direitos das mulheres aparecem em seus trabalhos sobre o Egito e o Oriente Médio.
Ele defende a auto-crítica e amplas reformas na região, incluindo a reforma dos currículos escolares.
A influência fundamentalista wahabita penetrou na educação no Egito, onde a literatura, poesia e peças árabes foram substituídas nas escolas pelos textos sagrados islâmicos, diz Heggy.
Até os anos 60, o Egito era uma sociedade verdadeiramente mediterrânea, mas ela foi gradualmente substituída pela cultura árabe/beduína.
Além das escolas, as mesquitas e a mídia do país - rádio e TV - também foram islamizadas, diz ele.
“As quatro entidades que mais têm infulência sobre as pessoas também foram influenciadas por culturas anti-seculares," declara Heggy.
A Constituição egípcia de 1971 define o Islam com a religião do Estado e a principal fonte da lei.
“O problema copta é o da pressão sobre uma minoria, intolerância em relação aos outros e uma falta de aceitação do pluralismo. Quanto mais o Egito é influenciado pela interpretação wahabita do Islam, pior para os coptas," diz Heggy.
Heggy publicou, ano passado, um ensaio polêmico 'If I were a Copt' [Se eu fôsse um copta], que apontou as injustiças que os coptas enfrentam no Egito.
Há 50 anos os coptas são impedidos de ocupar posições centrais na administração e política do Egito. A Universidade Al-Azhar, no Cairo, não aceita coptas em nenhuma de suas faculdades.
Exceto por uma doação feita pelo ex-presidente Gamal Abdel Nasser para a Catedral de São Marco, na Abbaseya, o estado egípcio não financia nenhuma igreja desde 1952. Os coptas também têm dificuldades em obter licenças para a construção de igrejas.
“Não pode haver solução para o problema de forma isolada da sociedade egípcia. Quando houver um grau razoável de liberdade na sociedade egípcia, haverá um grau razoável de liberdade para os coptas."
O sucessor do presidente Hosni Mubarak será a chave para o futuro do Egito, de acordo com Heggy. "Ele precisa de um líder competente, que possa trazer progresso econômico e social e melhorar as condições de vida de mulheres e homens."
Ele diz que o PIB percapita é de 1,200 dólares e que 25 por cento da população está desempregada, com o desemprego concentrado na faxa etária de 20 a 40 anos.
O desemprego elevado e o baixo padrão de vida do egípcio médio contrastam flagrantemente com a riqueza dos ministros do Egito, sete dos quais estão na lista de ricos da Forbes, diz Heggy. "Há um conflito de interesses entre estas pessoas e os interesses de longo prazo do Egito," ele ressalta.
Heggy deu palestras em muitas universidades e centros de pesquisas, incluindo a Universidade da Califónia, em Berkley, e o Instituto Washington para a Política para o Oriente Próximo. Ele também faz parte da direção ou é curador de numerosas instituições, incluíndo a Ordem dos Advogados do Egito, a Associação de Escritores do Egito, a Universidade de Artes e Ciências Modernas e a Escola para Moças da Universidade Ain Shams, no Cairo, e o Conselho de Educação Superior, em Abu Dhabi.
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